Pesquisa em desenvolvimento (não publicada) – atualização, junho 2022.
Racional:
Em 2021 um grupo Italiano identificou que as flutuações glicêmicas em pacientes com diabetes tipo 2 poderiam ser fator que contribuía para a severidade da COVID-19. No estudo, a quantificação do 1,5 anidroglucitol (1,5-AG) foi recomendada, bem como o tratamento mais intensivo do controle glicêmico associado à vacinação (Gaztambide, S. et al. Association of Serum 1,5-Anhydroglucitol with Severe COVID-19 in T2D patients. Diabetes; 70, 2021)
Button e colaboradores (2021) demonstraram que o 1,5-AG é um novo e independente preditor da mortalidade para COVID-19 (Button, E. et al. 1,5-anhydroglucitol is a Novel and Independent Predictor of Mortality in Patients With COVID-19. Circulation. 2021;144:A12380). No estudo, concentrações de 1,5-AG < 10 ug/mL foram associadas com mortalidade com odds ratio de 0,44 (95%IC, 0,11-1,85.
O vírus SARS-CoV-2 (COVID-19) tem como mecanismo de entrada na célula, a interação da proteína viral “spike” com o receptor da enzima conversora de angiotensina enzima-2 (ACE2). Esta interação é essencial para a evolução do processo de viremia. A Figura 1, abaixo representa esta interação.
Figura 1. O vírus SARS-CoV-2 liga as células alvos, pela proteína spike, através da enzima conversora de angiotensina enzima-2 (ACE2), que é expressa por células epiteliais do pulmão, intestino, rins e vasos sanguíneos. A expressão de ACE2 tem aumento substancial de expressão em pacientes com diabetes tip.o 1 e 2, que recebem tratamento para inibidores de ACE2 e bloqueadores do receptor da angiotensina II tipo-I (ARBs).
Imagem obtida de www.thelancet.com/respiratory Vol 8 April 2020
Estudo recente que embasa a proposta em tela
Texto adaptado de http://portuguese.news.cn/2022-05/13/c_1310592086.htm
Beijing, 13 mai (Xinhua) –
Em estudo recente, um grupo de pesquisa Chineses (Tong, L. et al. A glucose-like metabolite deficient in diabetes inhibits cellular entry of SARS-CoV-2. Nature Metabolism, 2022 – www.nature.com/natmetab) identificaram que o 1,5-AG tem uma função associada à COVID-19. Estes autores identificaram, após a análise de mais de 200 metabólitos que o 1,5 anidroglucitol tem relevância na interação do vírus com a célula hospedeira.
Os pesquisadores descobriram que o 1,5-AG pode inibir a entrada do SARS-CoV-2 na célula, ao se ligar à subunidade S2 da proteína de spike do SARS-CoV-2, interrompendo o processo de fusão da membrana vírus-célula.
Em experimentos realizados com camundongos, pesquisadores descobriram que camundongos diabéticos submetidos à infecção pelo SARS-CoV-2 sofriam com cargas virais muito maiores e danos mais severos ao tecido respiratório quando comparados a camundongos não diabéticos. A suplementação sustentada de 1,5-AG em camundongos diabéticos reduziu as cargas do SARS-CoV-2 e a gravidade da doença para níveis similares em camundongos não diabéticos. Os resultados sugerem que a suplementação de 1,5-AG pode ajudar a reduzir essas incidências e prevenir quadros graves de COVID-19 em diabéticos, de acordo com o estudo.
1,5-anidroglucitol (1,5-AG)
O 1,5-AG é um poliol com estrutura simular a glicose (Figura 2) obtido essencialmente da dieta. A excreção esta molécula depende de transportadores tubulares renais. Na presença de hiperglicemia, a glicose compete com o 1,5-AG pela reabsorção e o 1,5-AG é eliminado na urina em maior proporção, reduzindo sua concentração no sangue.
Figura 2. Estrutura das moléculas de glucose e 1,5-anidroglucitol
Em destaque a hidroxila que não se encontra no 1,5-AG.
O 1,5-AG é um indicador de hiperglicemia pós-prandial.
Em diabéticos com controle glicêmico inadequado, o 1,5-AG se apresenta reduzido. A relação com a glicemia é mostrado na Figura 3.
Figura 3. Relação entre a glicemia e 1,5-anidroglucitol
Concentrações de 1,5-AG abaixo de 10 ug/mL são associadas à controle inadequado da glicemia pós-prandial. mg/mL x 6.0918 = mmol/L
Em síntese, uma representação pictórica do achado publicado por Tong e colaboradores (2022), esta representado na Figura 4.
Figura 4. A molécula do 1,5-AG interage com a proteína spike do SARS-CoV-2, impedindo a interação com a ACE2
Liangqin Tong et al. Nature Metabolism2022. Lettershttps://doi.org/10.1038/s42255-022-00567-z. Nature Metabolism | www.nature.com/natmetab
PROJETO PESQUISA
Objetivo: verificar a frequência de concentrações de 1,5-AG reduzidas (definir critérios; a princípio <10 mg/mL ou <61 mmol/L) buscando identificar o número de diabéticos que seriam mais susceptíveis a doença grave associada à COVID-19
Execução:
Analisamos, resultados de 1,5-AG disponíveis no banco de dados do nosso laboratório, provenientes (>80%) do Laboratório Municipal de Curitiba, na busca de pacientes com redução de 1,5-AG (<10 mg/mL) e diabetes confirmado pela HbA1c (>6,5%)
Resultados
Registros de pacientes adultos, homens (n=1205) e mulheres (n=1674) foram avaliados para 1,5-AG separados por concentrações (£10 mg/dL) estabelecida como risco aumentado associado à severidade na COVID-19 e concentrações >10 mg/mL associadas a risco menor. A Figura 5 resume os resultados preliminares desta pesquisa
Figura 5. Concentrações de 1,5-anidroglucitol (1,5-AG) separados por gênero (Homem e Mulheres).
Destaque em retângulo azul, pacientes com risco menor e retângulo vermelho risco maior (1,5-AG <10 mg/mL).
Conclusão:
No estudo, pacientes com diabetes definidos pela concentração de HbA1c ≥6,5% apresentaram uma frequência global de 21,5%, com pequena diferença entre gêneros, homens 19,9% e mulheres 22,0%.
Relevância para o SUS
Este estudo preliminar informa aos Gestores do Sistema Único de Saúde que em Laboratório Terciário como o Laboratório da Prefeitura Municipal de Curitiba, pacientes com diabetes, predominantemente do tipo 2, é possível esperar que cerca de 20% destes apresentem redução do 1,5-AG compatível com maior risco de complicações associados à COVID-19.
Esta informação pode auxiliar os gestores a planejar a abordagem para diabéticos no estabelecimento de risco associado às complicações da COVID, possivelmente com a implantação para este grupo específico da dosagem de 1,5-AG.